Microbioma e Câncer: Como as bactérias do seu corpo podem ser Aliadas ou Vilãs na prevenção da doença
Pesquisas recentes mostram que o microbioma intestinal – o conjunto de trilhões de microrganismos que habitam nosso corpo – pode ser um fator determinante na prevenção do câncer e até mesmo na eficácia de terapias como a imunoterapia e a quimioterapia. Um microbioma equilibrado fortalece o sistema imunológico e reduz inflamações, enquanto um desequilíbrio pode criar um ambiente propício para o surgimento da doença.
ONCOLOGIA DE PRECISÃO
Dr. Neto Pereira
3/2/20253 min read


Nos últimos anos, cientistas descobriram um novo protagonista na luta contra o câncer: o microbioma. Esse vasto universo de trilhões de microrganismos que habitam nosso corpo, principalmente no intestino, desempenha funções essenciais para a digestão, a imunidade e o equilíbrio geral do organismo. Mas a ciência vem revelando que ele pode ir além: a maneira como essas bactérias interagem com nosso corpo pode influenciar tanto o desenvolvimento do câncer quanto a eficácia dos tratamentos oncológicos.
Embora o conceito de microbioma ainda pareça algo distante do dia a dia, seu impacto na saúde é real e profundo. Um microbioma equilibrado ajuda a regular a inflamação, a eliminar substâncias tóxicas e a manter o sistema imunológico funcionando de forma eficiente. Por outro lado, quando ocorre um desequilíbrio – condição chamada de disbiose –, o organismo pode se tornar mais vulnerável a doenças crônicas, incluindo o câncer.
Esse desequilíbrio pode ser causado por diversos fatores, como dieta pobre em fibras, excesso de alimentos ultraprocessados, uso indiscriminado de antibióticos e até mesmo estresse crônico. O problema é que certas bactérias presentes em um microbioma desregulado podem produzir substâncias que favorecem o crescimento descontrolado de células, aumentando o risco de tumores.
A relação entre microbioma e câncer já é bem documentada em alguns casos. Um exemplo clássico é a Helicobacter pylori, bactéria que pode colonizar o estômago e aumentar significativamente o risco de câncer gástrico. No intestino, algumas cepas de Escherichia coli produzem toxinas que podem danificar o DNA das células, elevando as chances de câncer colorretal.
Mas o impacto do microbioma vai além da origem da doença. Pesquisas recentes mostram que a composição bacteriana do intestino pode influenciar a resposta do paciente à imunoterapia, um dos tratamentos mais inovadores da oncologia moderna. Estudos indicam que pessoas com maior diversidade de bactérias benéficas – como Akkermansia muciniphila – respondem melhor à imunoterapia, enquanto aquelas com um microbioma mais pobre têm taxas de resposta mais baixas. Isso acontece porque algumas bactérias interagem diretamente com o sistema imunológico, ajudando a ativá-lo e aumentando sua capacidade de combater as células cancerígenas.
O mesmo vale para quimioterapia e radioterapia. Algumas bactérias intestinais podem metabolizar fármacos antes que eles cheguem ao tumor, reduzindo sua eficácia. Outras, por outro lado, podem ajudar a potencializar o efeito do tratamento. Esse conhecimento tem levado cientistas a explorar maneiras de modular o microbioma para melhorar os resultados terapêuticos.
A grande questão é: se o microbioma tem tanta influência sobre a saúde, como podemos cuidar melhor dele? Embora ainda não existam fórmulas exatas, algumas práticas já são amplamente recomendadas para manter um microbioma saudável e, possivelmente, reduzir o risco de câncer e outras doenças.
Como cuidar do Microbioma ?
✔ Priorize alimentos naturais e ricos em fibras – Frutas, verduras, legumes e grãos integrais alimentam as bactérias boas do intestino e ajudam a regular a inflamação. Feijão, batata-doce, arroz integral e mandioca são ótimas escolhas.
✔ Aposte em alimentos fermentados conhecidos – Iogurte natural, leite fermentado e queijos artesanais contêm microrganismos que contribuem para um microbioma mais equilibrado.
✔ Evite ultraprocessados e excesso de açúcar – Alimentos industrializados com conservantes, corantes e açúcares refinados podem favorecer bactérias inflamatórias e prejudicar o equilíbrio do microbioma.
✔ Não use antibióticos sem necessidade – O uso excessivo desses medicamentos pode destruir bactérias benéficas, abrindo espaço para o crescimento desordenado de microrganismos prejudiciais.
✔ Pratique atividade física regularmente – Exercícios físicos ajudam a diversificar o microbioma e fortalecem a imunidade, reduzindo processos inflamatórios.
✔ Durma bem e controle o estresse – O intestino e o cérebro estão diretamente conectados. Estresse crônico e noites mal dormidas podem impactar negativamente o microbioma, aumentando o risco de doenças.
A ciência está apenas começando a entender a profundidade do impacto do microbioma na oncologia, mas já sabemos que seu papel vai muito além da digestão. No futuro, exames de microbiota intestinal podem se tornar comuns na medicina personalizada, permitindo tratamentos cada vez mais eficazes. Até lá, pequenas mudanças no estilo de vida podem fazer uma grande diferença na forma como nosso corpo lida com doenças e se mantém saudável. Afinal, cuidar da saúde intestinal pode ser uma das maneiras mais acessíveis e naturais de fortalecer o organismo contra o câncer.
Autor: Dr. Neto Pereira
Oncologista Clínico, especializado em Predisposição Hereditária ao Câncer e Oncologia de Precisão.


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