Tumores Raros: Porque tem menos tratamentos?

Apesar de afetarem menos pessoas, eles representam um grande desafio na oncologia: menos estudos, menos tratamentos disponíveis e muitas incertezas. O que isso nos ensina sobre prioridades e esperança?

ONCOLOGIA DE PRECISÃOTUMORES RAROS

Dr. Neto Pereira

4/5/20254 min read

Ciência exige números — e tempo

A maioria dos avanços em oncologia vem de estudos com milhares de pacientes ao longo de anos. Quanto maior o número de casos, mais fácil é conduzir pesquisas clínicas, identificar padrões, testar novos medicamentos e avaliar sua eficácia.

Tumores raros, por definição, não reúnem grandes grupos de pacientes. Isso dificulta a realização de ensaios clínicos robustos e a criação de estatísticas confiáveis. É como tentar montar um quebra-cabeça com poucas peças disponíveis.

Além disso, o retorno financeiro para as indústrias farmacêuticas tende a ser menor. Desenvolver um novo medicamento custa centenas de milhões de dólares — e, naturalmente, os investimentos se concentram onde há maior demanda populacional.

É duro reconhecer, mas existe uma lógica fria nos bastidores da ciência: o que é raro, recebe menos atenção.

O impacto para o paciente

Para quem recebe o diagnóstico de um tumor raro, a sensação é de cair em uma zona de incertezas. Muitas vezes, não há protocolos definidos, nem tratamentos aprovados, nem estudos suficientes que indiquem qual o melhor caminho a seguir.

✔ Pode não haver medicamento específico
✔ Pode não haver médicos experientes no tipo de tumor
✔ Pode não haver grupos de apoio ou relatos de pacientes semelhantes

Isso não significa que não há o que fazer — mas significa que o caminho é mais incerto, e a jornada exige ainda mais coragem e suporte.

O que a medicina tem feito para mudar esse cenário?

Apesar das dificuldades, a ciência tem reagido com criatividade e resiliência. Algumas estratégias vêm sendo adotadas para enfrentar a complexidade dos tumores raros:

Medicina de precisão – Ao mapear as alterações genéticas de cada tumor, é possível encontrar mutações-alvo comuns mesmo entre tumores de origens diferentes. Um exemplo é o uso de terapias-alvo para mutações NTRK, encontradas em tumores de diversas partes do corpo, inclusive raros.

Estudos basket trials – São estudos que testam um mesmo medicamento em diferentes tipos de câncer, desde que compartilhem a mesma mutação genética. Isso amplia as possibilidades de pesquisa mesmo em tumores menos comuns.

Uso compassivo e reposicionamento de drogas – Médicos experientes podem utilizar medicamentos já aprovados para outras doenças, com base em plausibilidade científica, oferecendo alternativas para pacientes com poucas opções.

Colaboração internacional – Bancos de dados globais e parcerias entre centros oncológicos estão permitindo que pesquisadores coletem informações preciosas sobre tumores raros, mesmo com amostras pequenas em cada país.

Autor: Dr. Neto Pereira

Oncologista Clínico, especializado em Predisposição Hereditária ao Câncer e Oncologia de Precisão.

E o papel da empatia e da responsabilidade?

Os tumores raros nos lembram que não devemos olhar apenas para o que é mais comum, mas também para o que é mais vulnerável.

Na prática clínica, cada paciente é único. Mas na ciência, essa individualidade nem sempre encontra espaço. Quando falamos em tumores raros, falamos também em inclusão, equidade e cuidado com quem não tem visibilidade.

Por isso, apoiar pesquisas nessa área é um ato de responsabilidade coletiva.
E acolher pacientes com tumores raros com escuta ativa, coragem e sensibilidade é um ato de amor.

Para quem enfrenta um câncer raro: você não está sozinho.

Mesmo quando os caminhos não estão bem traçados, a medicina está sempre buscando novas rotas. Cada paciente tratado, cada caso documentado, cada passo ousado abre portas para os que virão depois.

Você pode ser a primeira peça de um novo quebra-cabeça.
E talvez, com tempo, coragem e ciência, ele se complete.

"Para quem vive o raro, todo detalhe importa. E a ciência não pode ignorar isso."

Na imensidão dos desafios da oncologia, os tumores raros ocupam um lugar silencioso e delicado. São aqueles cânceres que ocorrem com pouca frequência — geralmente definidos como os que afetam menos de 6 pessoas a cada 100 mil por ano.

E por mais que raridade soe como algo bom, no contexto do câncer, ela representa um obstáculo difícil de ignorar: falta de estudos, menos opções terapêuticas e, muitas vezes, um caminho solitário para o paciente.

Mas por que esses tumores têm tão poucos tratamentos disponíveis? E o que isso revela sobre a forma como priorizamos pesquisas, recursos e cuidados?

Quando se trata de tumores raros, o caminho pode ser mais solitário, mais incerto — mas não menos importante. Cada paciente representa uma história única, que merece ser ouvida, compreendida e tratada com precisão. Na oncologia, o raro também importa. E é justamente aí que a ciência, o cuidado e a escuta ganham ainda mais valor.